O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quinta-feira (19) que pagará uma bolsa de estudos para estudantes do ensino médio mais vulneráveis, na tentativa de que não abandonem a escola. Serão beneficiados, em 2021 e 2022, 300 mil alunos da rede estadual, e cada um deles receberá R$ 1.000 por ano, valor dividido em parcelas mensais
Pesquisas apontam que a evasão escolar pode triplicar em razão da pandemia e atingir entre 30% e 40% dos alunos da rede pública –só no ano passado, de acordo com dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) citados pelo governador, 5,1 milhões de crianças e jovens abandonaram a escola. Os beneficiados das bolsas de São Paulo serão estudantes inscritos no Cadastro Único do governo federal, o CadÚnico, que lista famílias de pobreza e extrema pobreza (renda mensal de até três salários mínimos ou até meio salário mínimo por pessoa), a serem contempladas por programas sociais. Além disso, será necessário também se cadastrar, de 30 de agosto a 10 de setembro, no site www.bolsadopovo.sp.gov.br.
Do total de 1,24 milhão de estudantes do ensino médio da rede paulista, 267 mil (21,5%) fazem parte do CadÚnico. Como serão distribuídas 300 mil bolsas, sobram, portanto, 33 mil, e o governo deve incluir alunos do 9º ano já a partir deste ano, além dos que vão ingressar no ensino médio em 2022. Ao todo, a rede estadual tem 3,5 milhões de alunos, dos quais 770 mil são de pobreza ou de extrema pobreza.
Alunos receberão os R$ 1.000 anualmente, até o final de 2022. Em 2021, eles receberão o valor proporcional ao ano letivo. O governo estuda escalonar o pagamento de forma que os valores aumentem a cada mês. Os alunos deverão ter frequência escolar mínima de 80%, fazer provas e estudar de duas horas por dia pelo aplicativo do Centro de Mídias SP. No caso do 3º ano, além dessas exigências, será necessário realizar atividades de preparo para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que seleciona estudantes para universidades.
A verba de R$ 400 milhões a ser investida nas bolsas de estudo virá da Secretaria de Educação de São Paulo. O programa é um braço do Bolsa do Povo Educação, anunciado em julho, que pagará R$ 500 mensais a 20 mil pais e mães de estudantes, entre agosto e dezembro deste ano. Eles já foram selecionados e, a partir da próxima semana, irão trabalhar nas escolas, durante quatro horas por dia, auxiliando no cumprimento dos protocolos sanitários, no acolhimento dos alunos e na chamada busca ativa, que tenta resgatar aqueles que não estão participando das aulas.
No ensino médio, em especial, as chances de recuperação dos estragos da pandemia tendem a ser menores, uma vez que há pouco tempo para que o conteúdo seja reposto até a formatura. Uma iniciativa do governo paulista para tentar atenuar essas lacunas foi o lançamento, neste ano, do 4º ano opcional, que teve pouco sucesso. Dos cerca de 310 mil alunos do 3º ano de 2020, apenas 10% se inscreveram. Apesar de estarem matriculados no 4º ano, na prática, eles foram colocados nas turmas de 3º. A intenção era a de que pudessem recuperar, em aulas presenciais, o conteúdo perdido com o ensino remoto do ano passado. Como neste ano o sistema online prosseguiu, no entanto, houve pouco engajamento.
A Secretaria de Educação ainda não consolidou os dados sobre a frequência desses alunos, mas já tem informação de que não foi significativa. Apesar disso, o secretário de Educação, Rossieli Soares, pretende manter o 4º ano opcional em 2022, quando se espera que as aulas presenciais estejam ocorrendo mais próximas da normalidade. Os estudantes do 4º ano podem optar por um currículo mais flexível, desde que cursem pelo menos três disciplinas.
Outra tentativa de se reduzir a evasão escolar se dá por meio da implementação do novo ensino médio, já em andamento, no qual os estudantes podem escolher diferentes currículos, formados por disciplinas pelas quais tenham mais interesse.
No anúncio da bolsa a estudantes desta quinta-feira, João Doria repetiu o tom de campanha presidencial, no qual a educação tem ganhado papel de destaque ao longo da pandemia. Com críticas ao Ministério da Educação de Jair Bolsonaro, Milton Ribeiro, ressaltou seus projetos educacionais contra a evasão escolar e a retomada às aulas presenciais no Estado. Com o microfone na mão, desceu do palco e discursou entre os educadores da plateia, encerrando a apresentação com a música “Novo Tempo”, de Ivan Lins.
por Laura Mattos | Folhapress / Foto: Govesp Por Bahia Notícias